Enquanto a mídia repercute a polêmica em torno das piadas de Danilo Gentili no Twitter (sobre judeus, metrô e Auschwitz) e de Rafinha Bastos no seu solo de “stand-up” (sobre estupro e mulheres feias), a receita publicitária do programa que os projetou, o “CQC” (Band), não para de crescer.
Quem quiser desembolsar de R$ 360 mil a R$ 2,4 milhões (preço de tabela) por uma das ações de merchandising do programa terá de enfrentar uma fila de até seis meses, a depender de que algum dos 12 anunciantes atuais abra mão da vaga.
Já para anunciar nos intervalos, o custo é de R$ 108 mil (preço de tabela) por uma propaganda de 30 segundos.
Para um programa que vai ao ar na segunda à noite e tem audiência média de seis pontos no ibope, o valor é considerado alto. Cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande São Paulo.
Uma propaganda de 30 segundos no “Pânico” (Rede TV!), que é exibido aos domingos, dia considerado mais nobre, com dez pontos de audiência, sai por R$ 179 mil (preço de tabela).
“Se nosso público começar a ficar incomodado com esse tipo de humor e deixar de assistir ao programa, talvez a gente deixe de patrociná-lo, porque estou de olho no público e na maneira bacana com que o programa chega até ele”, afirma Gabriela Onofre, diretora da P&G, que cuida da Gillette, uma das patrocinadoras.
Outro atributo associado ao programa, segundo os anunciantes, é o potencial de repercutir a publicidade nas redes sociais. Para ter uma ideia, os CQCs chegam a tuitar propaganda.
Em merchandising, os humoristas embolsam de 5 a 15% da verba, na maioria dos casos. Essa prática, porém, tem sido cada vez mais questionada no meio.
De um lado, as atrações do programa tentam transmitir a imagem da comédia feita com uma visão crítica do mundo. Nesse aspecto, o “CQC” se diferencia de qualquer outro humorístico, propondo-se desmascarar as mazelas da classe política.
“A questão é o rabo preso. Acho extremamente contraditório o artista posar como paladino da cidadania e depois abrir uma lata de refrigerante. A credibilidade vai para o brejo”, comenta um famoso comediante, que preferiu não se identificar.
Mas não é a TV a principal fonte de renda dos CQCs. Basta pensar que, nos shows de “stand-up”, a média do ingresso é de R$ 30 para um auditório de 400 pessoas, e 80% da bilheteria vai para o bolso dos comediantes.
Danilo é considerado um excelente artista no ofício e costuma se apresentar mais de uma vez por semana. Ele e Rafinha, aliás, são sócios de um bar de “stand-up”.
BASTIDORES
O que mais se escuta dentro da equipe é que no “CQC” a piada é o que conta. Em uma inversão da lógica jornalística, o mais importante não é a resposta recebida, e sim a pergunta feita.
Os comediantes costumam dizer que praticam um “jornalismo moleque”, mais descompromissado.
A ordem é sempre criar situações de confronto e constrangimento. Isso, quando dá certo, é comemorado.
A pauta do programa é inspirada no noticiário e existe uma preocupação em não soar popularesco.
Na esteira da polêmica da piada de Auschwitz, nenhum dos comediantes do programa procurados pela Folha se dispôs a falar.
A reportagem informa que não utilizou os métodos do “CQC” para se aproximar dos entrevistados.